O estreito caminho para o longínquo Norte, Matsuo Bashô

“Os meses e os dias são viajantes da eternidade. Assim como o ano que passa e o ano que vem.” (p. 17)
O que é ser um peregrino poético no Japão do séc. 17? É a questão que fica após a leitura deste pequeno volume que relata a viagem encetada pelo autor em que, cerca de 1680, percorreu a quase totalidade do litoral do país. É um registo sucinto em que prevalecem as ambiências e não uma imagem concreta e fixa que pudesse servir de referência a outros viajantes, uma vez que o tempo acabará por a alterar.
“O tempo passa e passam as gerações e, nada, nem os seus vestígios, são certos (…) Poder contemplar os testemunhos do passado é um dos privilégios do peregrino.” (p. 30)
No entanto, esta sente-se uma peregrinação poética, pois vários dos locais visitados acordam reminiscências da poesia de outros autores que fixaram com as suas palavras momentos da vida quotidiana das gentes e locais, mas sobretudo dos estados da natureza, seja pela contemplação de plantas ou estados climatéricos.
“O berço da poesia:
Os cantos dos plantadores de arroz
No longínquo norte.” (p. 24)
Estes são motivo para a criação, tendo a obra de outros autores como palimpsesto, ou em diálogo como os companheiros de viagem e hospedeiros ou ainda como forma solitária de registar a viagem.
Há muito que me impunha uma leitura deste poeta japonês do séc. 17. Desde que tropecei pela primeira vez com uma referência à sua obra no livro Rakushisha, de  Adriana Lisboa, no qual reconheço a procura de captar o fluir do tempo, a contemplação, o cerimonial. No entanto, é um registo que me provoca uma certa estranheza, pois as suas referencias são tão distantes que sento perder um ror de subtilezas.

Título Original: Oku no Hosomichi | Tradução: Jorge de Sousa Braga | Editora: Fenda | Local: Lisboa | Edição/Ano: 2ª, 1991 | Impressão: Rolo e Filhos, Lda. | Págs.: 62 | ISBN: 972-9184-22-4 | DL: 89071/91 | Localização: BLX PF 82-94/BAS

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